#154 - Meditações - Marcus Aurelius - Livro X - Parte 4/10 - Estoicismo

#154 - Meditações Marcus Aurelius - Livro X  Parte 4/10 - Estoicismo

8. Tendo merecido os qualificativos de bom, modesto, verdadeiro, sensato, resignado e magnânimo, agora se esforce para que não venha a merecer os seus opostos. E, se acaso perder um deles, se dedique prontamente a reconquistá-lo.

Lembre-se de que “sensato” significa que deve se manter atento a cada pormenor da vida, guiando-se com inteligência. Já “resignado” significa que você deve aceitar de todo o coração a tudo o que a natureza lhe reserva. E “magnânimo” significa que a sua alma deve viver elevada além das emoções grosseiras ligadas ao corpo, assim como do anseio pela fama, do medo da morte e de tudo o mais.

Dessa forma, se realmente merecer tais qualificativos e permanecer inteiramente indiferente ao fato de ser ou não reconhecido por eles, você se transformará e passará a viver uma nova vida. No entanto, se insistir em continuar a ser o que é, e continuar atolado nos vícios e nas angústias da existência, não mentirá quem lhe acusar de ser estúpido e demasiadamente apegado à vida. Assim você se assemelha aos gladiadores bestiais que, mesmo com ferimentos fatais a derramar o próprio sangue, suplicam para que sejam mantidos vivos para a luta de amanhã, quando o seu destino será provavelmente ainda mais sangrento.

Assim sendo, agarre com todas as forças tais qualificativos, cuide para permanecer em sua companhia, assim como faria de tudo para permanecer habitando uma ilha paradisíaca. E, se acaso suspeitar que eles escapam-lhe, ou que já não mais os possui, busca a todo custo algum retiro onde possa descansar das atribulações da vida, de modo que os possa reencontrar e reconquistar.

E, se nem isto for possível, então abandone de vez esta vida, não enfurecido, mas sereno e tranquilo, certo de que realizou ao menos uma coisa boa em sua existência: esta partida.

Para que jamais se esqueça de tais lições, será deveras útil ter sempre em mente a memória dos deuses, que não gostam que os bajulem, mas sim que os imitem em suas virtudes [os seres racionais]. Assim sendo, que a figueira se conduza na vida como figueira, o cão como cão, a abelha como abelha, e o homem como homem.

9. A farsa, a guerra, o terror, a apatia, a servidão [aos sentidos], farão com que em você desapareçam, dia após dia, todos aqueles princípios sagrados que concebe em sua mente e confia à guarda da memória; sem, no entanto, os fixar mais profundamente em sua alma, através do estudo da natureza.

É necessário contemplar e realizar tudo atento às circunstâncias particulares que lhe rodeiam e as suas relações com o todo, conservando em seu íntimo a satisfação que surge do conhecimento profundo de cada coisa.

Quando enfim puder ser um homem simples, que se basta a si mesmo, e é capaz de discernir a essência de cada ser ou objeto, assim como a sua posição no mundo, por quanto tempo deverá existir, e os elementos que o compõem, quem poderá lhe roubar tal sabedoria?

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